Não percebo como é que ainda não me arrependi.
Deve ser porque afastei a cor(quera)tina que me guardava do mundo, mas parece-me que toda a gente olha para mim. Com surpresa, riso e, gosto de imaginar, inveja. Olha o que esta maluca fez ao cabelo.
Basicamente, apeteceu-me copiar a miúda. A miúda que é igual a mim e fica tão gira assim, curta. Também é verdade que o meu cabelo me andava a fazer infeliz. Uma infelicidade armada de secador e escova e presa em nós e cremes e aquele frisado de inverno que me destrói. Depois há a transposição psicológica, a renovação, a audácia, a coragem, o despropósito. Quanto mais responsabilidade tenho mais procuro o despropósito. É infantil e crescido ao mesmo tempo. Sou um Peter Pan de calças rotas e eyeliner. Estatuto-me de pequenas revoltas. Sentada à direita, apresento um colarinho branco com riscas abotoadas no tweed. Contabilizo seis botões de punho à mesa, demasiadas gravatas (porque é que não há mais mulheres?) e umas calças rotas.