Não fosse a fortuna do encontro com as miú das e possivelmente tinha passado o dia a ruminar no papel manteiga. Ali, na parede da sala azul, em letras tortas (será para fingir que são eles que escrevem?), a minha filha traduziu-me assim A mãe é zangada, às vezes è boa. Emendou com um Eu sou uma traquinas, mas o coração já se me tinha estilhaçado na blusa. Prossegue com umas idas ao jardim, gelados e, la piéce de resistance, umas massinhas com douradinhos. Termina com umas histórias ao deitar quando eu, descompassada, já lia a correr os outros relatos. A peer pressure, a esperança que, ao menos, lhes tivesse caído mal o almoço e pronto, fosse disso. Mas não. Multiplicavam-se os relatos de beleza e amor, e eu cada vez mais enrugada, mais panada de miséria, quais douradinhos, que caraças a miúda come aquilo cada seis meses.
Confirmei que 1) não sou linda, 2) não gosta muito de mim nem eu dela (as declarações eram muitas vezes mútuas), 3) aquele era mesmo o dela, que tem uma maneira arrevezada de fazer o R do nome.
Já racionalizei tudo, mas cada vez que penso nisto apetece-me chorar outra vez.